Os Uns e os Outros
Eles estão lá! Nada contam e nada fazem| Estão lá! Não têm rosto! Estão presentes em uma ocultação que lhes confere a possiblidade de serem qualquer, mas estão lá cientes da sua individualidade. Existem ali sem a possibilidade de serem tomados por quem quer que seja. São únicos, embora não enxergados, como (?) se não vistos? Como representar quem se oculta? Como falar da similitude do retrato se ela é determinada somente por sinais da envolvente?
Se considerarmos o lugar do rosto como centro da figuração, estamos prante uma ausência, presente ou escamoteada conforme a circundante ao rosto a sublinha ou neutraliza. Como então, se o conjunto é definido por sinais mínimos, como trabalhar a (não) preponderância da ocultação e da ausência?
A Importância de Ser, 2005, Óleo sobre tela, 89 x 60
O Manto; O Lenço; O Xaile, 2005, Óleo sobre tela, 1oo x 80; 100 x 80; 100 x80
A aparente contradição desta pintura é a exactidão (que não a minúcia) dos processos e execução com a finalidade expressa de representar a ambiguidade. Contradição só aperente pois que é essa mesma exactidão que estrutura e redige o discurso plástico.
A Mulher e a Árvore, 2005, Óleo sobre tela, 107 x 91


Se por vezes o campo figurativo assenta em referências históricas do retrato clássico, essencialmente do século XV, buscando referentes profundamente assimilados na cultura ocidental, outras vezes parte de concepções assaz diversas: atitudes, posturas, sinais e signos arrastam a figura ora para a ruptura com a realidade ora para uma formalização abstractizante.
Pintura feita em uma escala que vai dos negros aos brancos luminosos, que parte do claro para o escuro, permitindo às figuras entrarem na sombra; luz difusa de origem indeterminada; grande intensidade cromática. Grande exactidão de representação, por vezes só aparente, conferindo sentido a cânones violados e deformações, usados para conferir presenças intencionais,
O de Perfil, 2005,Aguarela sobre tela, 60 xz 50
Entre Parêntis, 2005, Aguarela sobre tela, 60 x 6o
Outrossim, 2004, Samguínea sobre tela, 80 x 80
Doravante, 2004, Sanguínea sobre tela, 80 x 80
De Viagem, 2004, Lápis sobre papel, 100 x 100
O tríptico do Sol Nascente,
2006, Óleo sobre tela, 100 x 50; 100 x 45; 100 x 50
O Tríptico do Sol Poente,,
2006, Óleo sobre tela, 100 x 50; 100 x 45; 100 x 50
Trajam panos intemporais. Adquirem uma presença significativa .Dizem que são tudo o que é possível ser, sendo estritamente o modo como estão representados, sendo exclusivamrnte só isso.
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É uma situação estreitamente ligada ao real!!! Nada interfere no que é dito. O céu escurece um pouco turbulento nas cores de um qualquer possível mau tempo. Tudo é possível!
A solidão é transmitida com lisura.
É isso e somente isso, sem qualquer tipo de ambiguidade.
A Varanda, 2006,Óleo sobre tela, 146 x 114

Um espaço delimitado à esquerda e em baixo cria uma moldura parcelar e define um primeiro plano. O espaço continua para cima e para a direita. O gradeamento não esconde as personagens e só as retém. Situação quotidiana. Mas a personagem da esquerda evidencia toda uma simbologia fortemente ambígua. Erecta, contrtaditória, ignora quem a olha, indiferente, ostentatória. O que se presencia é perturbador, mesmo incomodativo
O políptico Uns e Outros atravessa a feitura dos trabalhos do triénio 2004 - 2006 e participa na oscilação entre a realidade apercebida e a sua adjectivação. Retratos de corpo inteiro em tamanho natural, eles são alguns de todos quantos passaram, para se fazerem pintar. Eles também quiseram dizer o que eram, sem mais do que isso, à maneira de tantos. Sódizem das atitudes.
Os Uns e Os Outros, 2006, Óleo sobre tela, 195 x 97; 195 x 130; 200 x 80; 200 x 80; 200 x 80; !95 x 130; 195 x 97

Entre Nós, 2004, Pastel sobre papel, 94 x 66